10 de julho de 2009

CAPOEIRA



Eu não sou de fazer figa
Quando entro nos lugares
Porque sou pinho-de-riga,
Pau que quebra os maus olhares.
Aprendi com rapariga
Muita língua de outros mares.
Sei me defender de briga
E escapar dos militares.
Gosto de fazer cantiga
Como os povos zanzibares
Lá da Serra da Barriga
Do Quilombo dos Palmares.

Eu trago no meu alforje,
No lombo do meu cavalo,
Espada que é de São Jorge,
Viola de São Gonçalo.

Eu nasci sem cativeiro
Lá no chão do pelourinho
Mangangá, meu padroeiro,
Me deu dom de passarinho
Beira-mar foi meu terreiro,
Camará foi meu padrinho
Berimbau meu companheiro,
Zum-zum-zum meu burburinho.
Quem me disse era guerreiro:
Capoeira anda sozinho.
E eu fiquei sem paradeiro
Na poeira do caminho.

Eu tenho preso num laço,
Na minha bolsa de pano,
O livro Capa de Aço
Do velho São Cipriano.

Sou de paz desde menino
Viro o Cão quando me empombo.
Vagabundo pente-fino
Vai tomar tapa no lombo.
Não me assusto com assassino,
Com polícia eu não me assombro.
Santo Antônio Pequenino
Não me deixa levar tombo.
Já me disse Catirino,
E isso pesa no meu ombro,
Capoeira, o teu destino
É o de proteger quilombo.

Cruzei o chão da Bahia
Benzendo os meus amuletos
Com eles fiz uma guia,
Rosário dos Homens Pretos.

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